O que se pode esperar da eleição da Ufma/2019?

Por Luís Pablo Política
 

Por Ivan Pessoa*

Ainda que esteja distante do país e, consequentemente, longe do Maranhão, ainda assim tenho acompanhado (via blogs e redes sociais) o clima que antecede a eleição para Reitor e Vice-Reitor da Ufma. Pelo que posso notar é um clima digno de eleição majoritária, com todos os seus aditivos políticos, ora positivos, ora negativos. Dada a conjuntura nacional, as tensões encontram na Universidade o seu espelhamento natural, sem que haja, em contrapartida, o horizonte ideológico que pulula Brasil afora.

Não havendo um confronto de cariz ideológico que, naturalmente, se nos reportaria às eleições de outubro, o que ora tem sobressaído é um conjunto de proposições técnicas sobre uma eventual gestão, algumas trocas de acusações, ora alguns lampejos de compreensão política alvissareira.

Como é natural em uma instituição de ensino, uma eleição não se dá, especificamente, entre políticos, mas entre docentes com habilidades genuinamente técnicas. Entretanto, e aqui se encontra a situação excepcional exigida pelas circunstâncias nacionais, o cargo a Reitor e a Vice (na conjuntura atual) reclama por uma figura que tenha habilidade suficiente para conciliar a posição de técnico e político; habilidade que cacifa o eventual vencedor a uma projeção estadual à altura de uma cadeira no legislativo.

Ciente de que a conjuntura nacional exige deste mais novo Reitor e ao Vice, uma dupla habilidade (de técnico e de político), comecei a esboçar para mim mesmo – a partir do material que recolhi nas redes sociais – uma compreensão da eleição que vem se desenhando, de sorte que tenho procurado dimensioná-la à luz das lições político-sociológicas de Vilfredo Pareto, Gaetano Mosca, Raymond Aron, Talcott Parsons e Charles Wright Mills.

Do esforço de adaptá-los em análise à eleição vindoura, eis que cheguei ao seguinte arroubo: vencerá este pleito, conjuntamente, o grupo que souber minar interesses especificamente pessoais e compactar uma relativa unidade acadêmica (em um plataforma e em uma campanha capazes de, preterindo miudezas políticas, articular a Universidade Federal e dar resposta à sua questionada credibilidade junto, inclusive, ao Ministro da Educação), e o candidato que souber converter os resíduos emocionais (manifestos pelos reclames de alunos, técnicos e professores) em uma postura que aponte saídas estratégicas, criativas e inteligentes face o cenário vigente. No primeiro caso, a vitória se aproxima de uma compactação dos interesses afins da comunidade acadêmica em um grupo que a represente e, no segundo, do desempenho eminentemente individual capaz de expressá-la.

Pode parecer simplório, mas essa é (em linhas gerais) a fórmula que Pareto e Mosca depreendem das elites políticas bem-sucedidas, a saber: aos resíduos emocionais presentes em um discurso, por exemplo, despertados por um pleiteante a um cargo eletivo sobre seus potenciais eleitores (que o estimam pela ênfase no senso de justiça, de luta ou de insubmissão constantes em suas falas) seguem-se as alentadas e entusiasmadas justificativas, por meio das chamadas ‘derivações’ que, ideologicamente, legitimam as paixões tomadas em nome do líder.

No contexto desta eleição, um professor só efetivará sua natureza de político se e somente se conseguir converter um senso residual específico (a maior união da Ufma, por exemplo) em uma justificativa, ou seja, em uma derivação. O que distinguem as elites e os grupos políticos, segundo a fórmula de Pareto/Mosca, é a força persuasiva de suas derivações, ou seja, a capacidade de dar forma e unidade às aspirações quase que inconscientes do eleitorado, levando-o à defesa apaixonada.

Como o cenário pós-eleição será politicamente acirrado, o que exigirá e recobrará do Reitor e do Vice uma dupla habilidade, ora como administrador, ora como político, extrair de suas respectivas campanhas, noções psicossociológicas como ‘resíduos’ e ‘derivações’; sentimentos e justificáveis ideais, é demasiado oportuno.

Vejamos, a começar pelo slogan da campanha, e daquilo que pude colher no material divulgado nas redes sociais, quais os resíduos e derivações que se encontram nas plataformas dos candidatos que, dados os critérios de apelo publicitário e força de arregimentação, disputam a vaga com maior probabilidade de êxito? Respeitados o grau de importância do cargo e a ordem alfabética, sem diminuir, preterir ou menosprezar as chances dos demais candidatos, temos:

A) Professor João de Deus: em sua página no Facebook, com atuais 424 curtidas, o Professor do Departamento de Matemática e atual Pró-Reitor de Planejamento da Ufma, tem um slogan relativamente sucinto: ‘Inovação. Inclusão. Integração.’ Apesar de ser Pró-Reitor da atual gestão, desde seu slogan, o candidato parece investir em um marco qualitativo que aponte para um modelo de gestão muito mais pragmático e objetivo, advindo daí os resíduos emocionais a que pretende apelar ao eleitorado.

Acresce-se a isso um material de campanha extremamente profissional, com apurado apelo audiovisual e interatividade que justificam, em tese, (entre os demais candidatos) o maior número de compartilhamentos e acessos. Destaca-se, a propósito, um vídeo datado do dia 14 de junho com (até agora) 2.606 visualizações, em que – circunscrito à ocasião do lançamento da campanha no auditório central da Ufma – a sua base, a Professora Nair e demais entusiastas declaram voto ao pleiteante.

Declarar voto, nesse contexto, quer dizer converter o senso pragmático e emocional da: ‘Inovação, Inclusão e Integração’ em justificativas que assim o torne coerente e racional frente a atual conjuntura. À certa altura, passadas as manifestações de apoio, como que empenhado em despertar no espectador um resíduo emocional referente à sua trajetória de vida, o Professor João de Deus ressalta entusiasticamente neste vídeo: “Sei o poder de transformação que a Universidade tem na vida de uma pessoa, não porque li em algum livro ou porque ouvi de alguém, é porque eu mesmo fui transformado por meio desta Universidade.”

A derivação ideológica, ou seja, aquilo que dá forma e justifica o resíduo emocional transmitido pelo discurso, no caso do Professor, aponta para um dos motes de sua campanha: Inclusão, ideia que se articula com um modelo de campanha que favorece a aceitação de propostas, além do empenho feito pelo Professor em responder às questões direcionadas em sua fanpage. Ademais, o apelo emocional da inclusão, acessível não exclusivamente no vídeo acima referido, mas em outros vídeos do candidato, conectam-no à parte expressiva do corpo discente, bem como a uma parcela mais jovem do corpo docente.

Portanto, respeitado aquilo que esbocei no segundo parágrafo como um arroubo, segundo o qual a eleição será vencida conjuntamente pela compactação de um grupo e pelo desempenho do próprio candidato, o Professor João de Deus aponta, tanto nos resíduos emocionais, como nas justificadas derivações, para a ‘relativa unidade acadêmica’, quiçá, ciente de que, caso eleito, governará não apenas para seu próprio grupo, mas para toda a Universidade que, como sabemos, é multicampi.

Respeitado o primeiro arroubo, o da satisfação que sua candidatura presta à unidade acadêmica, sua vitória dependerá do nível de aceitação da atual gestão, afinal vale destacar que o Professor fora indicado pela própria Reitora, bem como por sua capacidade auspiciosa para enaltecer os êxitos, apontar os erros e imediatamente se desvincular, propondo assim o seu próprio modelo de gestão.

B) Professor Natalino Salgado: em sua ‘Carta aberta à comunidade acadêmica da Ufma’, publicada dia 3 de junho no Facebook, o Professor Natalino destaca que, a convite do Movimento Pacto pela Ufma, percorreu nove campi, refletindo sobre a ‘Universidade que temos’ tendo em vista a ‘Universidade que queremos ter’. Além disso é digno de nota que, em seu slogan, a campanha do Professor tem por mote a seguinte frase: “Pra cuidar bem da Ufma”, cujo resíduo emocional diz respeito tanto à sua carreira médica, como à disponibilidade de quem (tendo sido Reitor, consecutivamente, entre 2007 a 2015) se sentiu sensibilizado por um grupo de professores, técnicos, alunos e sociedade civil que o convenceram a dispensar seus cuidados à Universidade.

Em razão dessa soma de fatores, que se dão à esteira da empreitada do Pacto pela Ufma e da notoriedade como ex-Reitor, o Professor Natalino tem em sua página do Facebook, 1258 curtidas, com material audiovisual e postagens extremamente apuradas. Em seu vídeo de maior destaque, com 214 visualizações, do dia 05 de junho, o Professor Natalino afirma: “Eu sei que o desafio é grande. Nós temos um cenário complexo a nível nacional e um trabalho coletivo pode fazer a diferença. Essa é a proposta da nossa equipe e do Pacto pela Ufma. Eu peço o seu voto na esperança que nós podemos voltar a transformar a nossa instituição. Vou cuidar bem da nossa Universidade.”

Todas as noções, anteriormente, aludidas ganham nessa afirmação um peso expressivo inconteste, afinal nela se articulam um senso de grupo, resíduos emocionais e derivações. Entretanto, o que a mim não pareceu claro, é: a quem o Professor Natalino se refere ao destacar e a interpor uma distância (marcada pela conjunção ‘e’) à proposta de ‘sua equipe’ e à ‘do Pacto pela Ufma’, ambos não são equivalentes? Apesar da ligeira conjunção, tal lapso não diminui o trabalho e a iniciativa pontuais do Pacto pela Ufma; iniciativa que, assim me parece, deve ser uma prática dialógica e institucional para além da eleição.

No mais, com a experiência acumulada como Reitor e Diretor do Hospital Universitário, a desenvoltura do Professor Natalino parece despertar, respectivamente, os seguintes resíduos emocionais e derivações: senso de competência administrativa (demonstrados em um passado recente) e saudosa memória; composição que, marcando-o por todos os êxitos e pelas recentes denúncias divulgadas em alguns blogs (em alguns casos, prontamente replicadas pelo candidato) pode representar uma nova vitória (pelo esforço conjunto daqueles que, tendo vivido o período de expansão da Universidade, a associam a Natalino) ou uma inesperada decepção (pelo clima de insegurança e indecisão que se segue logo após a sua aposentaria compulsória que, caso eleito, se dará pouco mais de um ano e meio após a posse).

C) Professor Allan Kardec: com o mote: ‘Força e Autonomia’, o Professor Allan Kardec dá provas de compreender, até didaticamente, tanto a esfera mais particularmente local, até o cenário nacional. Por ‘força’ alude às noções de ação e resistência, quiçá, em resposta às ameaças contra o Ensino Superior, e por ‘autonomia’, à prerrogativa que goza a Universidade.

Os resíduos emocionais e as derivações que decorrem desde seu slogan são igualmente atestáveis em sua fanpage, na qual (com 40 curtidas), apontam para a formação de uma grupo de entusiasmados eleitores com uma compreensão apurada do contexto atual sem que, com esta postura combativa, se distanciem da comunicação rápida e interativa tendente aos mais jovens. Em seu vídeo de maior alcance, datado do dia 04 de junho (com 155 visualizações) – à maneira de outros – o candidato não se constrange ao entoar o recém propagado, e muito frequentemente associado aos jovens das redes sociais: ‘juntos e shallow now’ (em franca menção à versão de uma música de Lady Gaga, adaptada ao português pelos cantores Paula Fernandes e Luan Santana).

Fazendo-o, o candidato cria maior apelo entre os mais jovens, estimulando-os não apenas à participação no pleito, mas convidando-os à sua própria plataforma que, de maneira rápida, criativa e inteligente, destaca seus méritos como pesquisador e Pró-Reitor de Pós-Graduação e Inovação. Por sua trajetória não apenas como docente, mas como administrador (leia-se: em esferas que extrapolam a própria Universidade) além de traquejo político – atestado por sua capacidade de articular o apoio estratégico de professores nos departamentos mais diversos, bem como na aposta da comunicação franca com os mais jovens – o Professor Allan Kardec é um forte candidato à Vice-Reitoria.

D) Professor Luciano Façanha: nesta eleição, um nome a que se deve dar uma atenção especial é o do Professor Luciano Façanha, seja pelo crescimento expressivo dos apoios (acessível em sua fanpage, com até então 413 curtidas), seja pela inteligência detalhista, que tem caracterizado a sua campanha. Muito solícito, atencioso e extremamente profissional, as credenciais do Professor Luciano são reconhecidas pelo marco qualitativo que deixa onde quer que passe; marco que se deixa ver no intervalo que há, desde seu ingresso no Departamento de Filosofia, até a recente passagem pela Coordenação do Mestrado Interdisciplinar em Cultura e Sociedade, em duas gestões.

Tendo sido seu monitor e orientando, percebi a mudança de sua chegada no curso de Filosofia, em meados de 2006, com uma lufada de entusiasmo que se converteu na criação de grupos de estudo, revistas, congressos e a expectativa de, à maneira dele, se dedicar academicamente à Filosofia. Diferentemente dos demais candidatos acima reportados, o Professor Luciano Façanha é o único que, vindo da Filosofia e consequentemente das Ciências Humanas, sabe das dificuldades que sofrem os profissionais desta área; dificuldades que, ameaçando os próprios discentes desses cursos, compõem as razões da retenção e da evasão.

Ademais, é digno de nota os resíduos emocionais despertos por sua campanha, cujas derivações são inteligentemente justificáveis em seu próprio mote: “Construir diálogos e buscar alternativas.” Sob o critério acima evidenciado, segundo o qual: o êxito eleitoral decorrerá do grupo que promover, desde a campanha, relativa unidade acadêmica, o Professor Luciano aponta para uma saída perspicaz, constante deste a primeira oração: ‘Construir diálogos.’

Em seguida, como que justificando-a inconscientemente, apresenta àqueles resíduos a própria derivação, como quem perguntasse: “- Em sua gestão, como a Ufma se posicionará neste horizonte de crise?” (Resposta/) “- Com diálogo.” (Por que? /) “- Por que, só com diálogo, se pode buscar alternativas.” Em seu vídeo com o maior número de visualizações, 412, do dia 16 de junho (ressalva-se: com maior visualização, em menos tempo, que o de maior visualização do Professor Natalino), o Professor Luciano reforça: “Resolvi me candidatar porque eu acredito que uma Instituição de Ensino Superior, para ser bem construída, é necessário trabalho, vontade, paixão e, acima de tudo, diálogo”, levando-nos a perceber as derivações que o habilitam ao cargo. Ora, apesar do resultado, neste ou nos próximos pleitos, o nome do Professor Luciano Façanha é, de longe, o que merece maior destaque, não apenas pela novidade, como pelo resultado politicamente promissor de sua campanha.

Passadas as observações, manifesto aqui os meus votos de esperança, ciente de que, com diálogo e democracia, a Ufma conseguirá encontrar uma saída à crise que tende a acossar os investimentos na educação e sua importância estratégica para o desenvolvimento do país. Por fim, encerro esta análise não sem antes me reportar a Napoleão Bonaparte, com efeito, o Brasil atual e seu clima ideológico (típico de uma guerra fratricida) o corroboram: “A política se tornou a fatalité moderne.”

*Doutorando em Filosofia pela Universidade de Lisboa. Professor de Filosofia da Ufma (Ciências Humanas/ Pinheiro). (E-mail: [email protected])

Um comentário em “O que se pode esperar da eleição da Ufma/2019?”

  1. River Batista

    HOJE, dia 25.06.19:
    Sra. Doutora Ministra Cármen Lúcia heroína mineira. PT, franchão sórdido nauseabundo.

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