Grilagem de terras prejudica 10 mil pessoas na grande São Luís

Por Luís Pablo Polícia
 

Sandra Viana / Imparcial

Você compra um terreno, quita, recebe a documentação, investe no local e, anos depois, descobre que pode não ser o dono, pois o documento é falso. Nem pode negociá-lo, sob pena de suspeita da participação em fraude. O problema é vivido por mais de 10 mil pessoas que adquiriram terrenos em Raposa, Paço do Lumiar, São José de Ribamar e São Luís, a partir da década de 80. Mas, foi em novembro do ano passado que a polícia descobriu uma quadrilha de grileiros envolvendo empresários, políticos, corretoras e imobiliárias.

O esquema foi desarticulado após o assassinato do empresário Marggion Lanyere, em outubro passado, motivado por um terreno no Araçagi. A partir daí, outros casos vieram à tona. Segundo as investigações, os envolvidos movimentaram pelo menos R$ 100 milhões com as grilagens.

Preso mais um

A polícia prendeu mais um suspeito de envolvimento nos crimes de grilagem, cuja empresa era utilizada como facada para negociação irregular de terrenos. Lourenço Moura Rodrigues, 35 anos, é cearense de Sobral, mas costumava vir a São Luís para fazer negócios. Ele foi preso na tarde da última sexta-feira, após descoberta da polícia sobre seu paradeiro.

“Estávamos à procura dele há quase um ano e agora, teremos como identificar que áreas foram negociadas por meio da empresa, que seria de fachada e ele, um ‘laranja'”, disse o delegado Luís Carlos Damasceno.

Lourenço Rodrigues foi ouvido informalmente e negou qualquer participação em crime de grilagem e disse desconhecer terrenos negociados ilegalmente por sua empresa, a Lee Iai Importação e Exportação ou ligação com falsificação de documentos. De São Luís ele iria à Raposa onde negociaria uma extensa área que diz ser de sua propriedade. “A área seria dividida em lotes para ser vendida”, ressaltou Damasceno.

O suspeito disse conhecer Edson Arouche, o Júnior Mojó e o corretor Elias Orlando, presos por envolvimento na morte do empresário Marggion Lanyere Andrade, mas negou ter negócios com a dupla.

No entanto, o delegado afirma que a empresa do suspeito intermediou negociação com o terreno de Marggion. Lourenço Rodrigues estava foragido e contra ele já havia um mandado de prisão por estelionato. “Vamos agora investigar a relação dele com a grilagem de terras”, declarou o delegado Carlos Damasceno.

Investigação

São vários os inquéritos gerados pela descoberta do crime de grilagem. Pelo menos quatro já foram concluídos pela polícia e 10 pessoas estão indiciadas.

A investigação se concentra agora no Loteamento Cidades e Fronteiras, no Araçagi, São José de Ribamar. No local, cerca de 300 pessoas foram escolhidas por amostragem para prestar informações à polícia. A área sob suspeita possui 46 hectares.

Para impedir novas vítimas a polícia bloqueou negociações naquela área. “Todo o loteamento é fruto de negociação ilegal, cujas documentações emitidas são fraudadas”, afirmou o titular da Supervisão de Áreas Integradas de Segurança Pública (Saisp) e delegado-chefe da comissão da grilagem, Carlos Alberto Damasceno.

A modalidade amostragem para depoimentos foi escolhida dado o grande número de vítimas. Além do Cidades e Fruteiras, outros 21 loteamentos irregulares nos municípios da Grande Ilha são investigados. A mais recente denúncia que chegou à polícia aponta ilegalidades na negociação de terrenos nos bairros Altos do Turu, Jardim Eldorado, Pirâmide, Vila Maranhão, Turu e Calhau, na capital.

“É um tipo de crime que só cresce e é difícil de impedir. Desde quando começamos a investigar não param de chegar denúncias”, disse Damasceno.

Os loteamentos possuem grande extensão de áreas. Alguns, diz o delegado, agrupam quase três mil lotes. São, ao todo, 22 loteamentos sob suspeito, sendo os maiores são o Cidades e Fruteiras (46 ha), Parque Aquares (93 ha) e Altos do Turu I, II e III (3.200 ha).

Fio da meada

O crime de grilagem no Maranhão começou a ser investigado após o assassinato do empresário Marggion Andrade, em outubro passado. Marggion foi morto pelo seu caseiro, Roubert Sousa dos Santos, o “Louro”, 19; pelo ex-presidiário Alex Nascimento de Sousa, 23, e por um adolescente de 15 anos.

Os três apontaram o corretor Elias Orlando Filho e o vereador Edson Arouche, o Júnior Mojó, como mandantes do crime. O empresário foi enterrado em uma cova rasa em um terreno de sua propriedade, no Araçagi. A quadrilha atua desde a década de 80, segundo as investigações.

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