Sarney revela que irá trabalhar até os últimos dias de sua vida

Por Luís Pablo Política
 

Senador José Sarney

Senador José Sarney

Em entrevista exclusiva ao O Imparcial, o ex-presidente do Senado, José Sarney, fala sobre um pouco da sua vida nas últimas décadas que marcaram a transformação da vida política e social do país. Leia abaixo algumas perguntas e resposta da entrevista:

Que avaliação o senhor faz da sua carreira política 28 anos após assumir a Presidência da República do Brasil?

José Sarney: A vida e o destino foram extremamente generosos comigo: fizeram-me o político de carreira mais longeva da História da República, aquele que teve o maior número de mandatos no Senado Federal e o que pôde subir todos os degraus da política, de deputado federal a presidente da República, além de presidente do Senado Federal por oito anos.

Na Presidência da República, tive a difícil missão de comandar a saída do País de um regime autoritário e a instauração da democracia.

Tivemos poucas Constituições na História da República. A que mais profundamente modificou a sociedade brasileira foi feita durante meu Governo.

Eu, quando convoquei a Constituinte, tive oportunidade de dizer que precisávamos avançar nos direitos sociais, correspondendo a minha Presidência ao período em que o Brasil colocou o social entre as suas prioridades e como uma das razões da ação do Estado.

Após 28 anos de ter assumido a Presidência da República, confortam-me os resultados que obtivemos: a instauração de uma das maiores e mais poderosas democracias, o maior clima de liberdades que já teve este País, os melhores avanços na área dos direitos individuais e civis, bem como a implantação de direitos sociais que até então não existiam e passaram a ser o carro-chefe das preocupações dos Governos seguintes.

Tudo isso foi possível porque a transição democrática foi feita com a implantação de instituições duradouras e seguras.

Os estudiosos da história recente da democracia no mundo ressaltam que a mudança mais profunda feita no Brasil foi a realizada durante o meu Governo. E também que a nossa Constituição é a que mais tempo passou sem ruptura na História da República.

O que aprendeu com os aliados ao longo da sua carreira política e o que só aprendeu com a Oposição?

Ninguém faz política sem aliados, e eu sempre a compreendi como a arte de harmonizar conflitos numa sociedade plural, democrática e controversa. Nunca aceitei a definição de Lenine de que a política deve ser uma guerra e que os adversários devem ser considerados inimigos que devemos exterminar.

Foi minha prática constante, ao longo de toda minha carreira, o exercício da arte do diálogo para compreender a posição e o pensamento dos outros. Dentro desse quadro, penso que a Oposição é necessária e contribui para que cada um prove que a democracia é um estado de espírito.

Qual legado fica para os filhos? Era seu desejo que seguissem o caminho da política?

Meu testamento para eles é o de pregar a fidelidade aos valores morais, o amor ao próximo, a capacidade de perdoar e a gratidão pela graça da vida, que começa na família.
Cada tempo é seu tempo, e o mundo

vive em constante mutação. Hoje, estamos, em relação ao tempo em que entrei na política, num mundo transformado. E vivemos também num mundo em transformação, na passagem da sociedade industrial para a sociedade de comunicação.
Se eu nascesse hoje, não entraria na política, mas não posso dizer aos meus filhos, que nasceram nesse tempo, que não o façam.

A política nos proporciona o pensar coletivamente, com a possibilidade de melhorar a sorte das pessoas da sua cidade, do seu Município, do seu Estado, do seu País e da própria humanidade. Só se faz política com espírito público, com devoção, com fé, como se fosse uma religião. Para isso, são necessários sacrifício, paciência e dedicação.

Quais os planos para o futuro? Aposentadoria? Literatura?

Aos 80 anos, o futuro, como dizia Eliot, é o presente e, dentro do presente, estão o futuro e o passado.
Não penso em me aposentar nunca. Até o fim da minha vida, trabalharei todos os dias nas duas vertentes que constituí na minha vida: a política e a literatura.

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