Do Josias de Souza
O emagrecimento da oposição, por acelerado, já preocupa até o Lula, general da situação.
O ex-soberano sabe que, para animar a tropa e driblar as divisões internas, é preciso ter um inimigo.
Na campanha, falava de “extirpar” o DEM. Na noite desta quarta (27), começou a administrar a soberba que viceja ao redor:
“Oposição é o bicho mais fácil de crescer. Oposição é que nem carrapicho. Eu fui oposição a vida inteira. A gente cresce sem ninguém precisar plantar”.
As palavras pingaram-lhe dos lábios em Guarulhos (SP). Falou na entrada de um congresso de metalúrgicos da CUT.
Depois, em palestra gratuita, agradeceu o apoio do sindicalismo no momento mais difícil de seu governo.
Não deu nome à crise, mas referia-se ao escândalo do mensalão, que eletrificou o primeiro reinado.
Segundo relato da repórter Leila Suwwan, Lula discorreu sobre a encrenca assim:
“Em um momento difícil, em um momento de uma crise delicada no país, quem assumiu o governo não foi nenhum jornal, nenhuma televisão ou um empresário…”
“…Foi exatamente o movimento sindical e social que assumiu a defesa do governo”.
Rogou à platéia que dispense tratamento análogo à sucessora: “Vocês têm de fazer com o governo Dilma o que fizeram com o meu governo…”
“…Sei que às vezes ficam chateados ou decepcionados. Podemos cometer um erro, mas é nosso. Se ela cometer um erro, ela é nossa…”
“…É nossa obrigação dar sustentação para ela, para o país continuar crescendo”.
Instou o sindicalismo a pegar em lanças contra a inflação: “[…] Temos a obrigação de não permitir que a inflação volte nesse país…”
“…Quem perde com a inflação não é a Dilma ou Guido [Mantega]. É quem vive do salário e precisa comprar comida todos os dias…”
“…Todos nós, homens e mulheres, precisamos ser guerreiros contra a inflação”.
Lula cuidou de apagar suas digitais da encrenca: “[…] O problema da crise econômica não é nosso, não é porque vocês ganharam aumento de salário…”
“…Na verdade, é porque a economia mundial é atrelada ao dólar, e o país que produz o dólar [EUA] resolveu fazer um ajuste fiscal”.
O excesso de dólar ajuda a animar a chama inflacionária. Mas há na fogueira lenha que o Lula do segundo reinado pôs para queimar.
Ardem sob Dilma, por exemplo, a política de cofres abertos e o refresco tributário servido até a beira das urnas, num 2010 em que já não havia a crise global.
Mas convém a Lula, um ex-carrapicho escolado, acomodar todas as culpas no quintal da Casa Branca. Não seria tolo de endossar a tese da herança maldita.
Se “carrapicho cresce sem ninguém precisar plantar”, é melhor não adubar. A inflação brasileira é culpa do Obama. E não se fala mais nisso.